O dia em que me apontaram uma arma

By Uma Inês Indisponível - junho 30, 2021

    Regressei da Madeira no dia 29 de maio, sábado, dia da final da Champions. Na Madeira houve alguns atrasos devido ao volume de voos e chegadas no aeroporto do Porto, mas, felizmente, conseguiram ultrapassar esse problema e consegui regressar. Confesso que não me importava nada de ficar lá mais uns dias, mas ia fazer noite nesse mesmo dia e, por isso, tinha mesmo de conseguir regressar. Saí do avião com um brinquinho da Madeira na mão toda entusiasmada, até que me deparo com um cenário completamente macabro. Centenas e centenas (para não dizer milhares) de adeptos de futebol. Estive 1 semana desligada do mundo, fui só eu e a Madeira, num namoro intenso. Não vi notícias, não li jornais, nada... Portanto, não estava NADA a par deste acontecimento. Foi complicado ver tanta gente junta, muitas sem máscaras colocadas mesmo dentro do aeroporto. Só quis sair dali o mais rapidamente possível.

    Decidi ir de autocarro para casa, ao invés de um Uber, pois pensei que seria mais fácil uma vez que havia muitas pessoas a solicitar Uber’s. Entrei no autocarro contente por estar de regresso a casa. Já íamos na sétima paragem após o aeroporto, até que um carro cinzento com rapazes aparentemente novos lá dentro, faz uma ultrapassagem arriscada ao autocarro. O carro ia certamente em excesso de velocidade e o condutor apitou durante toda a manobra. O condutor do autocarro indignado com tal acontecimento perigoso apitou para o carro cinzento. Até que... 

    Ainda não acredito no que vou escrever a seguir, parece uma cena à filme. Acho mesmo que se fosse alguém a contar-me iria achar complicado em acreditar. Mas a verdade é que o carro parou em frente ao autocarro e o condutor, sem abrir a porta do carro, mete-se de fora pela janela. Pensei de imediato após me aperceber do aspeto do rapaz que estava dentro do carro: "Oh que caraças, vamos entrar aqui numa situação de insultos. Desde que o condutor não abra a porta do autocarro, está tudo bem!". O meu coração começou a bater mais rápido até que, de repente, ele parou. Vejo o rapaz a meter a mão dentro do carro e a expor uma arma. Sim, uma arma! Uma pistola preta e apontou-a ao autocarro. Ficámos todos em pânico. O motorista parou o autocarro e colocou as mãos ao ar. Eu só tive o instinto de me baixar. 

    Dizem que existem várias respostas das pessoas a situações de extrema, umas pessoas congelam, outras reagem e outras ainda conseguem reagir a sangue-frio. Posso afirmar que TODA a gente que estava dentro do autocarro teve a mesma reação: congelamento. Ninguém conseguiu reagir. Só me recordo de pensar: "Vamos todos morrer.". Até que vi o rapaz a meter-se dentro do carro e a seguir com toda a velocidade. Tenho o instinto de olhar para a matrícula: "Olha para a matrícula Inês! Decora a matrícula!". E foi só isto. Não consegui decorar nada, bem olhei e tentei concentrar-me, mas NADA. Fiquei tão frustrada... O autocarro continuou parado, o motorista imóvel e incrédulo como todos nós.
    
    Inacreditável. Em Portugal isto acabou mesmo de acontecer? Ninguém sabia muito bem o que fazer, liga-se à polícia? Não se liga? Ninguém conseguiu decorar a matrícula, íamos todos em andamento… Será que há alguma coisa a fazer? Algumas pessoas disseram que não, que a polícia não ia fazer nada. Eu não me conformei, estamos num país que eu considero seguro (comparativamente a outros claro), todos temos de fazer a nossa parte. Mesmo que não se consiga fazer nada fica reportado e pode ajudar de alguma forma posteriormente. Contactei a linha de emergência e, ainda muito nervosa, relatei o que se tinha passado. Sei que não fui uma pessoa muito amistosa, o senhor que me atendeu tentou fazer-me ver que eles não tinham muito como atuar uma vez que o carro estava em andamento e que ninguém sabia a matrícula do carro. Mas eu insisti, estava à solta um maluco com uma arma, quem é que me dizia que esta situação não iria voltar a acontecer ou até mesmo ter outro fim? Após alguma insistência a pessoa que estava do outro lado da linha apontou o que se tinha passado e pediu para o motorista fazer queixa numa esquadra.
    
    “Fiz a minha parte, fiz o que me competia.”, pensei eu. Escusado será dizer que o sentimento de insegurança acompanhou-me durante a viagem toda até casa. Sempre com medo de que algo pudesse acontecer. Sempre tive muito cuidado com desentendimentos na estrada ou até mesmo pessoalmente, porque eu sei que sou uma pessoa pacifica, que não parto para a violência; mas a verdade é que nunca sabemos quem é que está do outro lado e a sua reação. E, após este acontecimento, tenho ainda mais cuidado. Foi um susto, felizmente, mas ficou uma história para contar e, principalmente, uma grande aprendizagem. Portugal não é o país que eu pensava que era, nem as pessoas têm todas o bem dentro de si.

Fonte imagem

  • Share:

You Might Also Like

6 comentários

  1. Que cena. Realmente parece tirada de um filme! Ainda bem que estão todos bem, pelo menos fisicamente. Beijinhos
    Segui de volta :)

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Mesmo! Eu volto a dizer: se isto não me tivesse acontecido eu sentia muita dificuldade em acreditar!

      Eliminar
  2. Isso é realmente muito triste, estamos vivendo em um mundo de violência, nem posso imaginar o susto, seguindo o blog bjs.

    ResponderEliminar
  3. Infelizmente vivemos num mundo muito mudado, até se pudermos comparar como era quando éramos crianças. Infelizmente já não estamos num país tranquilo e onde nada se passa. Espero que estejas bem e que não tenha passado de um susto "apenas".

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Obrigada querida!
      Foi um valente susto, mas confesso que ficou muito presente. O mundo está mesmo muito mudado.

      Eliminar