Querida professora Sandra,

Hoje entendo que a educação é a base da construção de bons cidadãos e pessoas. Desde que nascemos, aprendemos a ser educados de determinada forma. Em casa, para além do amor, aprendemos a essência de ter disciplina e regras, mas, a verdade, é que passava mais tempo no colégio do que em casa.

Se durante o infantário tive uma educadora fenomenal, no primeiro ciclo tive também a sorte de aprender com a melhor.  Lembro-me muito pouco do meu primeiro ano, tive uma professora que era um amor de pessoa. O que mais me recordo desse ano foi do gosto dela pelas crianças e o seu esforço para nos fazer ver que apesar das diferenças que possam existir entre nós, devemos aceitá-las e ajudarmo-nos uns aos outros.

No segundo ano, tive uma professora nova, para mim foi novidade visto que as outras turmas mantiveram os seus professores. Pertenci, orgulhosamente, à sua primeira turma. No início, confesso que foi difícil, tanto para si como para nós. Imagino o desafio que foi lecionar uma turma que não acompanhou desde o início e que requeria de alguma atenção especial, pois tínhamos connosco alunos de ensino especial. Para além disso, a minha perspetiva, sempre foi que nós estavamos um bocadinho atrasados e, por isso, senti o seu esforço diário para que conseguíssemos absorver o que faltava do ano anterior e, ao mesmo tempo, não ficarmos atrasados no segundo ano.

Recordo-me de, no segundo ano, estar a almoçar, de assoar o nariz ao meu guardanapo e de o colocar de volta no seu lugar. Ainda hoje, sempre que isto me acontece, sinto a sua voz no meu ouvido a dizer que depois de assoar o nariz, o guardanapo não deve voltar à mesa, para guardá-lo no bolso. Desde aí nunca mais voltei a colocá-lo na mesa. Sempre apreciei estes seus pequenos grandes gestos, quando via que havia um problema ou algo menos bem com algum dos seus alunos, optava pela descrição. Falava connosco, com calma e individualmente ou, quando não podia, sussurrava-nos ao nosso ouvido como se fosse o nosso pequeno segredo.

O terceiro e o quarto ano passaram a correr. Lembro-me dos nossos momentos de leitura, em que dizia para nos deitarmos no chão e ficávamos a ouvi-la a declamar histórias. Ainda hoje me recordo do Ulisses, em que, pela sua voz, vivi aventuras e desventuras, estive mesmo ao lado dele. Sempre ambicionei a sua paciência mesmo quando tinha uma aluna (eu claramente) que estava constantemente a desafiá-la e a tentar perceber como é que as coisas funcionavam.

Irei sempre recordar a professora como aquela pessoa que sempre soube balancear de forma perfeita os momentos de aprendizagem e de brincadeira. Aquela pessoa que me fez ver que por vezes temos de ser nós a colorir o mundo e a embelezá-lo. 

Estou lhe grata por tudo, acredito piamente que é uma das principais responsáveis pela minha educação, porque para além de me ensinar a ler e a fazer contas, ensinou-me muito mais do que isso, ensinou-me maneiras, a procurar ser cada vez melhor, a nunca desistir dos meus sonhos e a enfrentar um desafio mesmo que ele seja muito difícil.

Por tudo isto e mais alguma coisa que me possa estar a falhar, um muito obrigada!

Um beijinho grande da sua eterna aluna,